Para melhorar, a Faculdade Melies foi convidada pela escola Gobelins a fazer uma animação para o festival. Acontece que é a primeira vez que uma escola fora da França é escolhida pra produzir uma vinheta de abertura para o evento, o que nos deixou extremamente honrados e empolgados! Veja a seguir o trabalho dos alunos que participaram desta animação: Bernardo Teuber, Daiany Cristina, Diego Oliveira, Fabricio Rabachim, Isadora Pinoti, Pietro Nicolodi e Tiago Calliari.
Supervisão de Mendel Reis, Nina Tomé, João Boldrini, Ricardo Daroz e Gabriel Portella.
PRÉ-PRODUÇÃO
Tivemos um trabalho grande em pesquisas, pois não queríamos mostrar ao mundo algo que já tivessem visto sobre o Brasil. Então, procuramos fugir de todos os estereótipos possíveis (futebol, Amazônia, samba, carnaval, biodiversidade, Pelé ... ), e decidimos explorar uma temática mais nostálgica de infância, com uma estética toda urbana, em tempo de copa do mundo. Nós começamos a desenvolver ideias quando definimos o ano, 1994!
Estes concepts acima foram feitos quando não tínhamos nem o roteiro ainda, e eles acabaram influenciando a estética dos personagens e sugestões de situações conforme a estória se desenvolvia.
PERSONAGENS
Os personagens passaram por diversas transformações em seu processo de criação. O resultado final precisava ser algo bastante estilizado e diferente do que os estúdios apresentavam. Eles precisavam ter uma estética que se desprendesse do padrão.
Passamos por diversos estilos, explorando características gráficas, cores fortes e formas e proporções diferentes para cada personagem.
Pietro Nicolodi
Pietro Nicolodi
Pietro Nicolodi
Tiago Calliari
Finalmente, juntamos os elementos mais atraentes de cada estudo e chegamos em um estilo de personagens diferenciado, onde priorizamos formas menos usuais e um visual mais underground. Aqui estão Jorge, Marina, e os gêmeos Lucas e Lívia:
Inicialmente, O Jorge calçaria uma Ryder, e Marina uma crocs, porém, como estávamos trabalhando a história em paralelo com os personagens, o roteiro pedia que todos estivessem usando meias, pois no final eles juntariam todas elas pra fazer uma nova bolinha e continuar a brincadeira. Então, nós tivemos que abrir mão dos chinelos e colocamos tênis em todos.
Como nossos personagens são bem estilizados, foi dificil transpor o design para o 3D. Uma das dificuldades que encontramos foi justamente entender como funcionava a deformação dos "musculos" da face de cada um deles. Eles não poderiam se comportar como humanos, com os mesmos blendshapes que faríamos em uma modelagem realista. Eles tinham um funcionamento diferente.
Este aqui foi um guia pra entender onde são as partes "duras" e as partes "flexíveis" da malha, até onde podíamos puxar os blendshapes dos supercílios e o comportamento das sobrancelhas que são destacadas da cabeça.
Diego Oliveira
PROPS
Diego Oliveira
CENÁRIOS
O design da ilha foi pensado para representar o Brasil e seus contrastes, tanto que sua silhueta é o mapa do país. Queríamos evidenciar principalmente a desigualdade de nossas cidades sob a perspectiva arquitetônica estilizada, onde edifícios comerciais modernos fazem fronteira com favelas. São duas forças opostas com um elemento neutro que as une: a rua. E é na rua que nossa estória se passa, unindo crianças que deixam de lado suas diferenças e se juntam para jogar.
Outro fator que procuramos trabalhar em nosso cenário foi a diversidade cultural do nosso povo, trazendo características particulares de diferentes nacionalidades em nossas casinhas e pequenos comércios. Procuramos também, sempre que possível, resgatar elementos que nos levassem de volta à época de 1994, como guias e asfalto pintados, a Brasília amarela, o Fusca ou o orelhão.
STORYBOARDS
Cada shot do filme foi muito bem estudado uma vez que tínhamos apenas 40 segundos pra desenvolver a estória e, portanto, cada frame tinha que ser muito bem trabalhado.
Quando começamos a colocar os desenhos em uma timeline, percebemos melhor a duração que cada enquadramento teria.
Aqui estão as primeiras versões do Animatic que não estava ainda a serviço da estória com relação ao curto tempo que tínhamos.
Neste aqui, por exemplo, estávamos já com 20 segundos e ainda não tínhamos começado a mostrar o jogo, então deixamos um pouco de lado a interação entre eles pra focar na partida de taco, como não podíamos passar de 40 segundos algumas coisas foram cortadas:
Já aqui, estávamos mais cientes do que realmente era o nosso filme. Uma apresentação rápida das crianças, um shot bem didático para que os públicos do mundo todo entendessem a mecânica do jogo e as crianças trapaceando e se ajudando ao decorrer da brincadeira:
COLOR SCRIPT
Queríamos uma sensação de final de tarde para o final da vinheta, que é o horário que as crianças tem que entrar pra casa, é o ultimo jogo, desde os primeiros concepts nos tivemos essa sensação de final de sexta-feira, queríamos que essa nossa lembrança estivesse nítida nas cores.
Quando algum personagem está trapaceando, colocamos ele na sombra, pois ele está agindo por debaixo dos panos.
Quando o Lucas fica furioso por terem perdido sua unica bolinha, colocamos o reflexo das casinhas projetado de forma destorcida nos vidros dos prédios, pra que isso reforçasse a ideia de que ele está muito furioso, o fio de energia que apareceu reto no plano anterior aparece distorcido na altura de sua cabeça.
O processo da pré-produção nos tomou bastante tempo, mas foi crucial para o sucesso do projeto. Tivemos que passar por diversos testes, sempre com o objetivo de atender aos requisitos da estória. No final, conseguimos atingir o que queríamos mostrar ao mundo no Festival de Annecy: a energia do brasileiro que, com seus contrastes e dificuldades, segue o jogo com um sorriso no rosto!
Obrigado !